

Leitura e Memória
Resgatar e provocar a memória cultural de uma comunidade através da literatura, dentre suas plurais formas de manifestação, é considerar que em todas as sociedades, independentemente da sua cultura, “a leitura exerce a função de passagem, seja para um plano de consciência e compreensão de mundo, ou para as relações que ela proporciona, pois a linguagem traz consigo a memória do consciente coletivo”. (Alberto Manguel) O leitor, no momento em que é inserido no mundo da literatura, familiariza-se com o passado comum e o atualiza com seu universo, por meio de uma experiência estimuladora, a leitura.
O ato de ler se estabelece na hibridização de vozes: a voz literária se soma às inúmeras outras vozes que habitam a memória do leitor, dilatando seu acervo pessoal, expandindo seu patrimônio imaterial.
Nesse sentido, a proposição de espaços de leituras compartilhadas também se configura como uma oferta de território simbólico onde o indivíduo se percebe capaz de construir narrativas, para assim, resgatar e preservar sua história. Isso porque, a literatura provoca no leitor uma relação de sincronia com o tempo e o espaço histórico/simbólico da humanidade, retirando-o de uma relação diacrônica com o tempo cotidiano e cronológico, onde as experiências de memória encontram-se em declínio.
Considera-se nesse contexto o caráter mutável da memória, compreende-se que rememorar é resgatar uma lembrança ao mesmo tempo em que o indivíduo a atualiza no tempo presente, restabelecendo seu vínculo afetivo com o fato rememorado a partir de seu contexto atual. Sendo assim, também é possível considerar que o patrimônio memorável de uma comunidade não está recluso aos museus ou às entidades preservadoras da memória. O patrimônio cultural deve ser abrigado nos mais variados espaços de convivência, de modo a democratizar seu acesso e estabelecer um vínculo permanente com a comunidade.
A partir dessas reflexões, o projeto “Leitura Coletiva – Diálogos memorativos” fez uma aposta na leitura, compreendendo-a como uma oferta de espaço para inúmeras relações, capazes de colocar o leitor em contato com seu corpo atávico, estimulando-o a olhar para sua própria história como um patrimônio cultural digno de ser preservado.
Lucas Buchile